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CABER SENDO LÍQUIDO

  • Foto do escritor: Desva
    Desva
  • 26 de jun.
  • 1 min de leitura

Atualizado: 2 de jul.

Levei 50 mil choques, com minha boca vendada.

Mas isso é uma mentira.

Uma mentira porque ninguém viu.

Mas isso,

isso também é uma verdade —

uma verdade porque eu senti todos os espasmos.

Os 50 mil choques nos meus nervos — estupefatos.


Choques em discrição,

com boca cerrada

e olhos que quicam de um lado a outro.

Inclusive, eu ouvi tudo:

a dor dos gritos que engoli,

mãos miúdas compostas por cacos de vidros mínimos.


Como já cansei da afronta medíocre da ignorância,

decidi escutar o grito.

Engoli-o cortante,

depois,

senti a água e o sal na língua.

Engolir meu sabor

e minha afiadez.


O gosto do íntimo

e a textura do subterrâneo.

As formigas me viram,

me deglutindo

e rosnando.


Não sabemos.

Foi prazer, dor, reclamação?

É igual.

É mutante.

Algo que desmancha e refaz isocronicamente.

Engolir o sólido.

Caber sendo líquido.

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